sábado, 25 de março de 2017

Trailer Clube dos Cinco

O pen drive do Lex foi descompactado. Seja como for ou como vier, um 1º blockbuster da Liga da Justiça é um evento histórico. Ponto.

E toma trailer.


Esse é talvez o último grande bastião a ser derrubado. Lembra como há uns vinte anos (logo ali) qualquer coisa envolvendo super-poderes parecia impossível na telona? Pelo menos não sem soar camp e datado. E acho mesmo que os créditos de criação de toda a estética e cinematografia que tornaram isso possível deveriam ir para Alex Proyas e Stephen Norrington, respectivamente. Mas esse assunto fica pra próxima.

Sinto uma obrigação cívica de prestigiar a estreia da Liga no cinema, mesmo que os rumos do universo cinematográfico da DC pelas mãos de Zack Snyder sejam pra mim um desastre de proporções apokolípticas. E desconfio que estou sendo mais cerimonioso em relação à importância histórica desse longa do que a própria Warner, mas vamos lá...

Rápido e rasteiro:

  • Ao exemplo das campanhas do filme do Esquadrão Suicida, a prévia vende um pacotão de 2 horas e pouco de aventura/ação modernosa, frenética e com doses de humor mais generosas que o padrão até aqui;
  • O uniforme do Flash é uma tralha, mas o efeito do arranque é ótimo e diferente até da versão televisiva;
  • Cyborg... meu São Steve Austin, que geringonça... CGI pavoroso (isso tem que melhorar) e uma concepção lamentável baseada nos Novos 52 e, sei lá, nos Bayformers?.. e ainda voando (!) igual ao Homem de Ferro; 
  • Há algo muito mal-resolvido no Bat-Affleck, como se ele ainda estivesse bastante desconfortável no personagem... não soa como se estivesse satisfeito com seu próprio Bruce Wayne ou que tenha se acertado com a armadura de dezessete toneladas - mas, veterano, não compromete tampouco;
  • A Mulher-Maravilha da ex-incógnita Gal Gadot brilha a cada aparição e periga valer o ingresso sozinha...;
  • ...tal qual o Arthur Curry/Aquaman do Jason Momoa, entre o fanfarrão e o ameaçador num timing bacana;
  • Ao malocarem o vilão principal ou o Superman fica óbvio que esses elementos serão importantes, quiçá os MacGuffins da trama... quer me enganar, me dá bala.

Trailer é igual displayzinho de McLanche - uma peça publicitária que dificilmente vende o produto de maneira fiel. Mas esse, por priorizar o aspecto diversão da experiência, se sai bem. E dessa forma deixa a espera pelo relaunch do UDC nos cinemas um pouco mais suportável.

domingo, 12 de março de 2017

Precisamos falar sobre a Regan


Quem é você? — perguntou ele.
Nowonmai — respondeu algo num sussurro doloroso. — Nowonmai.
Nowonmai. — A voz sussurrada parecia vinda de longe, de algum espaço
escuro e fechado à beira dos mundos, além do tempo, além da esperança,
além até do conforto da resignação e do desespero.
Talvez a mais perfeita descrição do abismo olhando de volta.

Difícil destacar um único aspecto da obra O Exorcista (1971), de William Peter Blatty, falecido em janeiro. Mas posso afirmar que os mais intrigantes pra mim sempre foram os momentos de calmaria no olho do furacão. Entre as explosões de fúria demoníaca e os extenuantes embates físicos e psicológicos, existem misteriosos interlúdios em que a jovem Regan McNeil parece submergir num estado de transe. Embora breves, esses períodos de semiconsciência são fascinantes e muito sugestivos. Como se a infeliz possuída fosse arrastada para um eterno estado de espera, enquanto o demônio estivesse ocupado com outras questões além da nossa compreensão terrena - talvez negociando o preço de sua pequena aventura neste plano; ou simplesmente entrincheirado, afiando as garras antes de mais um confronto com os exorcistas.

O que vem nesse ínterim é que é a parte estranha.

Com o demônio temporariamente fora de casa, os ratos fazem a festa: o corpo catatônico da possuída passa a agir como uma "antena astral", sujeita a todo tipo de interferências vindas do outro lado. E assim evidencia como nunca sua condição de mero receptáculo, de casca vazia. Ou de um portal escancarado para um abismo. Confundindo a expectativa dos exorcistas, vão surgindo singelos cânticos de crianças de coral de igreja, murmúrios em idiomas incompreensíveis e, em dado momento, uma voz que bem poderia ter tido ali a sua primeira chance de ser ouvida desde tempos imemoriais.

"Nowonmai" - obviamente "eu sou ninguém" ao contrário - soa como uma voz condenada e anônima, soterrada pela eternidade, jazendo num vazio longínquo de redenção inalcançável. O purgatório, talvez?

Apenas divagações. Isso nunca é explicado, o que é sensacional.


Bem... nada disso se encontra em O Exorcista, a série. Como quase tudo vindo da Fox, a produção se materializou na grade um dia, sem maiores cerimônias ou explicações. A proposta era até uma blasfêmia, o que deve ter agradado bastante o príncipe da escuridão: dar continuidade aos eventos de O Exorcista (1973), clássico do diretor William Friedkin. Pra completar, o criador e showrunner é Jeremy Slater, um dos roteiristas de Quarteto Fantástico e de Pets, a menor bilheteria de 2016.

Mas o inferno está na moda. Hoje temos um cardápio cramulhístico bem ao gosto do freguês, indo de Ash vs Evil Dead e Stan Against Evil aos que-se-recusam-a-ser-cancelados Sobrenatural e Lucifer. As ousadias começaram em 2014, com O Bebê de Rosemary refilmado em minissérie com Zoe Saldana. Afundando as botas em terreno profano, veio Damien, sequência direta do antológico filme-livro A Profecia (1976) - e, por sinal, uma boa série do ex-walking dead Glen Mazzara que, ao ser cancelada na 1ª temporada, nos brindou com uma excelente conclusão. Sem querer, é claro.

Apesar do flop, este parece ter sido o molde da Fox para O Exorcista. E ao contrário do texto intenso de Blatty e da adaptação metódica de Friedkin, a proposta da série descarta quaisquer conjecturas mais profundas sobre a natureza do bem e do mal. A abordagem agora é bem mais mundana e ágil. O que não soava animador em princípio (e meio e fim), mas a curiosidade em ver como se enquadrariam hoje os parâmetros daquela história dramática e aterradora acabou falando mais alto.

O enredo gira em torno da família Rance, modelo de classe-média yankee. O pai Henry é interpretado por Alan Huck, o eterno Cameron Frye; a rediviva Geena Davis é a mãe, Angela Rance; Hannah Kasulka e Brianne Howey são as filhas Casey e Katherine, respectivamente. Todos lá com as suas cotas de sinistros - Henry se recupera de uma lesão cerebral provocada por um acidente, Katherine também viu vovó pela greta n'outro acidente e Angela tem mais esqueletos no armário do que um cemitério.

Com tudo isso, uma das meninas começa a desenvolver um estranho comportamento, do tipo que pode acabar em jatos de vitamina de abacate e cabeças girando em gloriosos 360º.


Para equilibrar a balança - ou morrer tentando - estão o Padre Tomas (Alfonso Herrera), amigo próximo da família e uma estrela em ascensão na diocese, e o Padre Marcus (Ben Daniels), um exorcista experiente, obsessivo e marginalizado pela burocracia católica. Ambos também trazem suas cotas pessoais ao cenário. Enquanto isso, forças obscuras que podem ou não estar relacionadas ao caso se infiltram nos bastidores da aguardada visita do Papa à cidade.

A nova trama nem é nova, mas vai aí um conselho curtido em água benta para os peregrinos: fuja de resumos, googladas furtivas e até mesmo de listas com o elenco da série. 666% das fontes entregam já nas chamadas vários dados cruciais - um deles, inclusive, colossal (sempre quis usar...!) e que eu classificaria como o às na manga da temporada. A internet perdeu completamente o bom senso.

São esses dados que definitivamente fazem valer a conferida na série. Se você tiver o livro e o filme na cabeceira, bem embaixo do pôster emoldurado da Regan demoníaca, vale.

Vale, vale, vale.

Mas antes de embarcar, há uma listinha de coisas a abstrair. O estilo da produção é aquele típico do terror moderno e que não faz nem cosquinha em quem cresceu assistindo a sessão da meia-noite nos anos 70 e 80. Filtros teal/orange chapados, câmera balançando, o CGI que nunca convence. Você sabe. Aquela coisa pasteurizada, previsível, dispersante.

Outra: ainda que o desenvolvimento tenha pouca relação com o filme - o de 73, que fique claro, embora considere O Exorcista III (1990) um Monstro de Frankenstein cinemático deveras interessante - a série busca suas próprias conquistas, o que é louvável. Claro, não acerta o tempo todo. E nem na maior parte das vezes.

Mas é por aí que ela eventualmente se encontra.


Conferi os primeiros episódios armado até os dentes, pronto para exorcizar a série do wi-fi. Entre todas as macetadas estéticas citadas, incluindo a pior cena de CGI do ano passado (a perna quebrada no E02... o horror, o horror), me deparei subtramas ambiciosas pero sóbrias, sustos bem construídos e, ora veja, cenas de embrulhar o estômago, mesmo a esta altura do campeonato.

O elenco, completamente engajado e ciente daquele mythos, foi o elemento definitivo. Uma vitória de casting. Nada menos a esperar da veterana Geena Davis. A surpresa em vê-la nesta franquia dura alguns capítulos, mas sua imersão na personagem logo ajusta o foco do espectador. O mesmo serve para Alan Huck, cujo papel se revela bem mais vital para a trama do que aparenta no início.

Brianne Howey (Kat) tem um déficit de entrega nos momentos mais extremos, embora não comprometa, ao passo que Hanna Kasulka (Casey) foi uma belíssima revelação. Essa é pra ficar de olho, assim como o promissor Alfonso Herrera (Tomas), numa ótima participação que em nada lembra seu passado de, pasme, cantor do grupo RBD (!!!). E a tendência ao exagero de Ben Daniels (Marcus) só é tão acentuada quanto seu carisma e sua capacidade de segurar a tensão em cenas difíceis.

Estava ficando tentador. No 3º episódio eu soube que acompanharia a temporada toda. Mas foi o 5º (dos infernos) que botou fogo na série.

Meu amigo, que final...

Spoilers compels you!

(marque para ler a mensagem escondida)


Mais um aviso, tolo mortal: se quiser ter uma boa experiência com esta série, não leia. Ou Pazuzu virá em seu encalço com uma pilha de carnês do IPTU atrasados.

Ok, desde que soube da série O Exorcista a pergunta recorrente era: onde estariam os personagens clássicos? Fiquei especulando até que fariam uma conexão indireta com o original.

Imaginei, por exemplo, que resgatariam Sharon, a secretária de Chris MacNeil. Coadjuvante em essência, participou ativamente de todo o horror da história original até sua conclusão. Seria justo. Mesmo se fosse algum parente dela. Um(a) filho(a) talvez, que cresceu ouvindo um causo arrepiante sobre uma "garotinha doente".

Ou então algo mais próximo do campo místico, como a esotérica Mary Jo Perrin - personagem que só aparece no livro e foi a 1ª a notar que algo estava muito errado com Regan.

Ou quem sabe até o simpático Padre Dyer, melhor amigo do inesquecível Padre Damien Karras. Enfim, pensei em algo bem sutil e cuidadoso na relação com o material clássico. Mas foi bem o contrário.

Nunca imaginei que essa continuação seria sobre a própria Regan Teresa MacNeil.

Tenho que admitir... ao mesmo tempo que achei a maior audácia da paróquia, foi uma paulada espetacular no sensorial. O modo como a revelação foi lentamente desvelada, primeiro através da confusão de Henry, e depois no final, com um monólogo estarrecedor de Angela, foi de desnortear qualquer cidadão.

Uau, Geena Davis é Regan MacNeil adulta... Uau.

Por isso ela sacou todo o worst case scenario em tempo recorde - e quase me fez desistir da série logo de cara...

A confissão coincidindo com a própria Chris MacNeil (Sharon Gless) batendo à porta dos Rance até configura um timing forçado, mas, naquele momento, não podia soar mais apropriado. Apesar disso, ainda não compro a sempre discreta Chris ter vendido o sofrimento de Regan para a mídia. Por mais que a vida desse voltas e a nece$$idade viesse a tiracolo, ela nunca atiraria "Rags" aos tubarões.

...embora já tenhamos visto coisas similares na vida real.

E, admito, as cenas da Regan adolescente num programa de entrevistas dos anos 1970 foram ótimas e bem convincentes. No mínimo, um material muito interessante para um retcon, que provavelmente nunca virá. Enfim, algo a se pensar - assim que eu assimilar o chocante destino de Chris pelas mãos possuídas da filha... e dá-lhe mais blasfêmia com o cânone. Se boa ou ruim, fica a critério, mas sempre saindo da zona de conforto.

Quanto à conspiração do Illuminati satânico, é seguro afirmar que há bases residuais no livro e no filme (as vandalizações na igreja feitas por uma seita). O único risco era a fórmula batida: pessoas ricas e influentes manipulando tudo com o tinhoso no corpo já foi feito trocentas vezes antes, sendo metade delas em Sobrenatural.

E não adianta, falar em bandos de pessoas possuídas por demônios é quase referência às aventuras de Sam & Dean. Mas há diferenciais.

Desde o modus operandi para a dominação mundial (muhahaha!) até a maneira como a possessão se manifesta fisicamente nos olhos. E uma boa sacada foi o conceito de "integração", o que explica o fato das possessões serem tão diferentes - animalesca em Casey e na Rags jovem e quase imperceptível nos vilões da alta sociedade e na Rags adulta.

Falando nos vilões, a Maria Walters da estranhamente interessante Kirsten Fitzgerald tem muito caldo para render, apesar do final horripilante da personagem. E por alguma razão, o Irmão Simon do ótimo Francis Guinan me lembra uma das passagens mais perturbadoras do livro: a fantasmagórica visita do "Padre" Ed Lucas ao dormitório de Karras.

E parecia inevitável que dessem um corpo físico a Pazuzu, mesmo havendo um sem-número de possibilidades para um personagem/entidade incorpórea ameaçadora. Felizmente, a solução mais fácil não foi necessariamente destoante. Rags teve contato com uma versão física do demônio, o Capitão Howdy - e, partindo do sugestionamento infantil para um assédio mais explícito, ainda houve a inserção do Salesman ("Vendedor"). Ah, meu diploma de psicologia imaginário...

Só que a estratégia tem seus pontos fracos. Por diversas vezes Pazuzu fica parecendo um arremedo de Freddy Krueger. Tem até uma cena no final em que ele abre os braços e arranha paredes com as garras. Quando se humaniza demais o perfil e as motivações, perde-se em obscuridade, estranheza, horror. Vira um monstro agradável. E isso se reflete no clímax, com um quase mano-a-mano (!) entre ele e Regan em seu subconsciente.

Em contrapartida, sua deterioração física e agressividade aumentando conforme a passagem dos episódios ficou muito bacana. Méritos para o ator Robert Emmet Lunney, que, até onde lhe coube, fez um bom trabalho com o capetão mais famoso do cinema.

Mas ninguém tasca a chegada triunfal do Padre Marcus na sequência do atentado ao Papa, com direito a frasezinha de efeito à Schwarzenegger. Combinação esdrúxula, mas bateu.

Mais uma pro mural do guilty pleasure.


Apesar do saldo bastante positivo em uma temporada irregular (que conflituoso) e da aclamação geral em ratings web afora, o silêncio da Fox diz muito. Até o momento não houve sinal de renovação. Jeremy Slater anda jogando verde em entrevistas, mas nem ele parece ter a menor ideia dos rumos da série.

Espertamente, a temporada deixou algumas possibilidades em aberto, ao mesmo tempo em que priorizou um senso de conclusão. E ainda há muitos elementos do livro a serem explorados/revisitados.

Mas se o ponto final foi esse mesmo, então a saga foi fechada dignamente.

E só me resta brindar a isso.


Saúde!

quarta-feira, 1 de março de 2017

Papai voltou!

Devemos uma reverência especial a Alien: Covenant por ser a 1ª vez ipso facto que Ridley Scott dirige os xenomorfos babões desde seu clássico de 1979.

História sendo escrita aqui, amigo. Não importa se o capítulo for ruim.


Mesmo com o prólogo de humanização do núcleo de personagens divulgado esses dias, nada de novo no front. E tanto David (Michael Fassbender) quando Elizabeth (Noomi Rapace), constantes no elenco, continuam estrategicamente sumidos, embora as referências a Prometheus estejam bem evidentes.

O que me chama atenção mesmo são as estrelas do filme. Que espécimes magníficos, hm?

Alien: Covenant estoura o peito do Brasil em 18 de maio.